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Educação infantil precisa ter amor envolvido

Confira entrevista com o pesquisador Daniel Santos, da USP, que será um dos palestrantes no Educação 360, evento que reúne especialistas no assunto



Acontece no próximo dia 30, no Museu do Amanhã (RJ), o Educação 360. O evento, que está em sua terceira edição, traz especialistas para discutir o ensino na primeira infância. Além dos 16 palestrantes convidados, o encontro inclui no debate professores, diretores, alunos e seus familiares.  O objetivo é compartilhar visões e experiências bem-sucedidas de ensino e que atendam as atuais demandas da sociedade. As inscrições para participar já se esgotaram, mas o encontro terá transmissão ao vivo nos sites do Jornal O Globo, Jornal Extra e do Canal Futura.

Daniel Santos, professor de Economia da USP e membro do Núcleo Ciência pela Infância, será um dos palestrantes. Ele estuda o impacto de políticas públicas voltadas à primeira infância e o desenvolvimento socioemocional no ambiente escolar. Confira entrevista que Santos concedeu à CRESCER:


Por que esse evento vem em boa hora para a sociedade brasileira? São várias razões. O Brasil acordou para a questão do desenvolvimento infantil nos últimos cinco anos. Estão acontecendo discussões super-relevantes sobre o tema. Para mim, o momento também é especial porque se tornou obrigatória a matrícula de crianças a partir dos 4 anos. Isso é fruto de um amadurecimento. Há muitas pesquisas mostrando a importância da pré-escola. Mas ainda há vários tópicos urgentes a se discutir sobre educação infantil. Não se debate tanto a rotina escolar e a qualidade dessa educação infantil que, em muitos casos, deixa a desejar.


O que suas pesquisas na área têm mostrado? Ao que parece, a educação infantil de baixa qualidade não faz bem para a criança. Esse é o fato que mais me surpreende e causa preocupação na minha pesquisa. Ao analisar os resultados da Prova Brasil [avaliação de português e matemática feita no 5° ano com crianças brasileiras] e verificar a nota média de quem passou pela creche e quem não passou, os dados mostram que, em média, quem foi para a pré-escola tem, sim vantagens, mas frequentar a creche não parece acrescentar muito a essas crianças. Se pegarmos a população brasileira e dividirmos pela educação da mãe, percebemos que os ganhos da educação infantil são heterogêneos: no Brasil, quem mais se beneficia com a creche e a pré-escola são os filhos das mães mais bem educadas e com maior renda.


Essa descoberta não vai na contramão de pesquisas internacionais, que apontam que a educação infantil beneficia muito as crianças de baixa renda? Sim, porque a qualidade da creche para pessoas de baixa renda aqui no Brasil é muito ruim. O problema parece estar na qualidade mesmo. No resto do mundo, a questão da qualidade da educação infantil é central. 

E como melhorar essa qualidade? A gente ainda não consegue estudar a fundo o problema da qualidade da educação infantil no Brasil porque faltam dados e medidas. Sabemos que o desenvolvimento infantil está ligado à vivência de bons estímulos, aos vínculos que a criança estabelece com adultos e com os colegas. Nesse vínculo, há um componente afetivo, o amor, que ajuda a criança a se sentir segura. Na educação infantil é preciso haver, portanto, o que chamo de “responsividade”: não adianta o adulto ser afetuoso se, na hora em que a criança provoca uma brincadeira esperando uma reação, ele não interage. A criança, no fundo, é um pequeno cientista testando hipóteses. Para ela, interagir com as outras pessoas ainda é misterioso. Ela testa várias formas de buscar a atenção do outro.

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Por

Claudia Prados

Claudia Prados é Mãe-fundadora do Mundo Ciranda e pedagoga . Ao buscar para sua filha um ambiente educacional encorajador e não encontrar, resolveu criar um local que fosse capaz de cuidar, dar afeto, nutrir adequadamente e ao mesmo tempo se comprometer com o pleno desenvolvimento cognitivo, social, emocional e humano das crianças

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